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Perfil Elika Takimoto

A paixão pelos livros e pela escrita a levou muito mais longe do que poderia imaginar: 158.537 seguidores em seu perfil no Facebook, 80 crônicas publicadas no blog “Minha vida é um blog aberto”, vencedora do Prêmio Saraiva de Literatura, 5 livros publicados e mais uma longa lista. Elika Takimoto divide sua rotina entre ser escritora, pintora, maratonista, professora, mãe de três filhos, blogueira e ativista política. E o que para tantos poderia parecer muita coisa, para ela, que afirma gostar muito de tudo o que faz, não é: “O que me motiva é paixão. Se não tiver paixão, eu não faço nada. Se a gente faz uma coisa que gosta, eu acho que a coisa flui. E como eu gosto de muita coisa, tá fluindo bastante.”
Ao contrário do que se possa imaginar, Elika só começou a escrever depois dos 30 anos. Hoje, aos 44, faz sucesso no Facebook e Twitter compartilhando crônicas, vídeos engraçados, opiniões políticas, textos sobre educação, saúde e diversos conteúdos que chamam atenção da mídia. “Uma postagem que viralizou foi eu anunciando o Hideo, meu filho, pra arrumar uma namorada pra ele. Mas quando eu anunciei, eu já tinha uns 60 mil seguidores. E lembro que daqueles 60 mil pulou para 100 mil”, conta. “Cheiroso, hétero e fazedor de cafuné como ninguém”, escreveu. Foram mais de 150 mil curtidas.
Elika é filha de uma dona de casa e um engenheiro, que veio do Japão para o Brasil sem saber falar uma palavra em português. “Eu sou suburbana, moradora de Madureira, tenho 3 filhos, sou solteira. Não tenho berço nenhum”, conta. “As vezes eu fico assustada das pessoas me reconhecerem na rua”. A escritora afirma não saber exatamente quando começou a repercussão do seu perfil, mas relembra vários episódios que viraram notícias em diversos veículos online, como O Globo.
“Uma coisa que eu fiz foi uma prova de física sobre Relatividade, onde os alunos que faziam as perguntas. Essa reportagem também viralizou e eu fui parar na revista Galileu, fui entrevistada em várias rádios. Se não me engano teve cerca de 10 mil compartilhamentos”. As publicações renderam convites para dar entrevistas também em programas de televisão, como “Encontro com Fátima Bernardes”. Elika também saiu nos jornais quando recebeu um telefonema do ex-presidente Lula (PT), agradecendo por um outro texto feito por ela. Meses depois, ela se filiou ao PT, na presença do petista.
“Retorno financeiro com essa repercussão eu não ganho absolutamente nenhum. Não sei ganhar dinheiro e não tenho isso como objetivo”, pontua. As palestras que ministra em escolas e faculdades por todo o Brasil são gratuitas e ela pede apenas a passagem e a acomodação. “As pessoas acham que eu estou ganhando dinheiro, mas eu não estou ganhando com nada. Livro é piada, né? Falar que a gente ganha dinheiro com livro no Brasil, nessa altura do campeonato, não dá”. E para ela, o objetivo nunca foi dinheiro, mas sim compartilhar histórias. O melhor retorno, para ela, é a troca com os que acompanham seus textos, “sejam 2, 200 ou 20 mil pessoas”.
As críticas não são um problema. Elika afirma gostar muito de ser positivamente criticada, porque aprende muito. A ansiedade que sente por não conseguir responder todos os comentários em suas redes sociais é grande, e é sempre um susto ouvir o famoso “eu te sigo” quando viaja para fazer palestras pelo país. “Eu acho legal receber críticas, eu cresci muito em cima delas. Crítica destrutiva, de virem me xingar, não me ofende em nada. Geralmente a gente dá o que a gente recebe. Se a pessoa tá me tratando com ódio, é porque ela não recebeu amor na vida. A vontade que eu tenho é de abraçar essas pessoas”, afirma.
Elika teve seu primeiro filho, Hideo, aos 19 anos e a ascendência japonesa está presente também no nome dos outros dois: Nara, 19 e Yiku, o caçula de 10 anos. A presença dos filhos como personagens em muitos dos seus textos, segundo Elika, só interfere no convívio de forma positiva. “Eles jamais reclamaram de nada. O que pode acontecer, por exemplo, foi um dia que a Nara estava se arrumando para ir a 'escola', e tava colocando biquíni, protetor solar e canga na mochila. Eu perguntei pra ela: 'Não vai a aula hoje?' e ela respondeu: 'Não, mãe. Hoje todo mundo resolveu matar aula. Mas por favor, não coloque isso no Facebook, porque você é a única mãe que sabe. A mãe de mais ninguém ficou sabendo disso”, relembra.
Uma relação digna de Capitão Fantástico, caracterizada como “ímpar”, “de muitas trocas” e “livre de absolutamente todo tipo de julgamento” define o cotidiano da família Takimoto, que conta também com a cadela vira-lata, Marie Cure, Pafúncio, o Takimóvel - carro da família, e Nelson, o pai das crianças, que é separado de Elika mas “dá a honra da presença” em diversas ocasiões. A escritora afirma entender a posição que ocupa como autoridade em casa, principalmente por ser a provedora, mas evita ao máximo se colocar nesse papel ao lidar com seus filhos. “Eu sou uma pessoa completamente insegura, sou uma pessoa perdida, os meus textos mostram muito isso. Me separei, fiquei uns três anos separada, tive crise de depressão. Como assim eu vou orientar alguém a fazer alguma coisa se eu to perdida e não tenho certeza de nada?”, reflete. “Não tem julgamento, não importa o que eles fazem. Se eles forem experimentar sei lá o que, eu sempre pergunto, e eles falam sempre. Eu peço para ficarem em segurança, claro. Pergunto se foi bom para eles, se tá tudo certo, se sentiu alguma coisa, se seria legal a gente experimentar também”, diz.
“Algo muito comum que acontece comigo são vários amigos dos meus filhos virem conversar coisas que a mãe deles não sabe. Então, aqui tem um punhado de gente que se declara numa relação homoafetiva, por exemplo, ou fala que é bissexual, ou fala que já experimentou maconha, ou tá experimentando droga mais pesada, e a mãe não tá sabendo de nada, quem tá sabendo sou eu, porque quando eles vem falar comigo não tem julgamento nenhum e eles só querem conversar. Eles mesmos pedem pra me encontrar, porque eles querem me ouvir, querem saber o que eu tenho pra dizer. Geralmente eu não tenho nada pra falar, eu só ouço e fico conversando com a pessoa. Conselho, volto a te falar, eu não dou porque eu to perdida e não me sinto apta a dar conselho absolutamente nenhum, pra ninguém”.
Provando que letras e números podem caminhar juntos, Elika é uma escritora formada em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professora e coordenadora da matéria no CEFET/RJ, mestre em História e Doutora em Filosofia. A rotina incerta inclui resolver problemas da escola pelo computador, dar aula e fazer atividades físicas sempre que pode. Mas o grande vício de Elika Takimoto são os livros, principalmente os de literatura. “Todo tempo vago que eu tenho é correr pra leitura ou então pra escrita. Pode ser a qualquer hora do dia”, afirma. Para ela é “extremamente complicado” decidir por um livro favorito, mas não pela escritora: Zélia Gattai. “Essa pra mim foi imbatível, foi ela que me inspirou a escrever”, conta.
Imersa no mundo dos grandes “monstros sagrados da literatura”, Elika afirma beber dessa fonte com frequência, que serva para inspirá-la. Além de Zélia, é fã de Clarice Lispector e Fernando Sabino. O hábito da leitura se intercala com a escrita: “E, geralmente, quase tudo que eu escrevo é pelo celular, porque eu não tenho tempo de sentar no computador e escrever. Às vezes eu estou em fila do banco, em hora de espera, levando filho pra bateria ou em casa mesmo”, diz. Sempre movida pela paixão, o futuro se mostra promissor. E não poderia ser diferente para Elika Takimoto.





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